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quinta-feira, 21 de junho de 2007

Adoro Pinar!


A conclusão que serve hoje de título, não traduz ao invés daquilo que seria de esperar, um desejo furtivo, mas sim um gosto amadurecido no tempo. O facto é que, vergado por uma derrota copiosa por 5-1 no jogo da passada 2ª feira (longe estava eu de saber que das derrotas copiosas, esta seria a menos má), em que fiquei com o travo amargo na boca dado pela convicção de que quanto mais rematássemos à baliza menos marcávamos, dediquei o tempo a caminho de casa a pensar que às vezes, ou nem sempre, mesmo que façamos o nosso melhor isso não chega.




Deste pensamento à conclusão de que “adoro pinar”, foi um passo curto.


Tempos houve em que depois do jogo eu pensaria “adoro uma costeleta de novilho mal passada ou então o que ia mesmo bem agora era um porco”, mas isso reflectiria um desejo pequeno para uma fome grande, que se ficava pela rama do desejo, e não pela profundidade da satisfação. E nestas coisas da comida e do pinar, há muito que a satisfação deixou de ser aquela coisa simples do preencher o espaço vazio da vontade.




Acontece que “adoro pinar”. E com isso não me afasto um milímetro que seja da minha mais profunda convicção e que consiste em afirmar que pinar é capaz de ser das melhores coisas que podemos fazer, mesmo que não o façamos sempre que queremos. Aliás, meus simpáticos strumpfs-leitores, para que o acto de pinar seja de facto algo positivo, é bom que não o façamos sempre que podemos, mas sim sempre que queremos. Esta diferença aparentemente apenas semântica é provavelmente o paradigma de um dos grandes equívocos dos dias que correm. Como poderia eu adorar pinar, se o acto em si fosse vulgar? Mas é da repetição do treino que se atinge a perfeição?




Socorro-me novamente do jogo para explicar este ponto de vista. Na 2ª feira rematei 10 vezes à baliza, marquei um golo. Os restantes remates ou foram aos postes, ou foram rechaçados, ou foram para fora. O único golo que fiz, foi a conclusão do pior remate. A bola entrou devagar, quase a pedir licença e desculpas, mas é desse que se faz história. Todas outras tentativas saíram frustradas. Não interessa a beleza (se existiu) do movimento, não importa o drible que lhe esteve na origem, importa pouco o vigor da acção. No pinar – e eu adoro pinar – a coisa anda por aí mais ou menos ao mesmo nível. Não importa a beleza, ou o vigor, se no final o objectivo não é concretizado. Porém, e aqui sim instala-se a confusão, o objectivo do pinar pode ser o prazer, o orgasmo, o encarquilhar das unhas dos pés até as mesmas darem sumo de alcachofra, mas também pode ser algo mais intenso, como o ficar na memória. Como no futebol, podemos rematar à baliza para a estatística, para a excitação, mas é dos golos que ficam na memória que a história se faz, e no pinar… é igual!




Durante anos pensei que era o treino que me encolheria os falhanços, depois achei que seria da abstinência que sairia a genialidade. Engano. Quanto mais treinei menos aprendi, e a abstinência não fez de mim um Einstein, ainda que em alguns momentos tenha contrariado a lei da gravidade através de um subir de paredes muito jeitoso…




Admito que afirmar assim sem uma preparação prévia que “Adoro Pinar”, pode ser uma coisa vulgar. Eu gosto de coisas vulgares, mas não gosto de vulgaridades e adorar pinar está longe, pelo menos para mim de ser uma vulgaridade. Vulgaridade é o processo que nos leva a não conseguir distinguir entre a costeleta de novilho mal passada e um porco, porque afinal tudo aquilo que sentimos é fome, e não vontade de comer.


E eu simplesmente adoro pinar!


E pronto, agora vão lá fazer uma visitinha de estudo a uma perfumaria, que falar convosco a tapar o nariz, é coisa para me fazer dores de cabeça!

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