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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Até que a morte nos separe

Posso escrever sobre relações mas não escrevo sobre o amor. Por isso, dizem que fujo ao amor como o diabo da cruz. Não, não é isso. Simplesmente a palavra amor, é usada fora de contexto para justificar sentimentos, que não merecem a palavra usada para os definir.
Têm-me perguntado na minha vida pessoal e mesmo MUITO na blogósfera, o que é que eu entendo sobre o amor. Visto que sou contra as definições que encontro.
Portanto, vou falar de amor e da minha definição do mesmo. Estando ciente que a minha opinião, poderá ser ridicularizada por todos aqueles que "amam" de 5 em 5 minutos. Aqueles que pensam que já amaram 20 pessoas. Aqueles que acham que a sua definição de amor é correcta.
A minha definição pode não ser 100% correcta, mas está certamente mais próxima da realidade, pois exclui a atracção ou paixão e merdas derivadas.

O amor, é mais do que o sentimento forte que senti pela minha ex-namorada.
O amor, é mais do que um sentimento que possa ser abalado por uma circunstância da vida.
Uma traição, não mata o amor, pode feri-lo, mas este fica lá para ser sentido.
Se o amor morreu não era amor. Foi algo de muito forte, perto de ser amor sem o ser.

Durante os votos de amor eterno numa igreja qualquer, esse amor é abençoado com a maior ofensa possível, "Até que a morte vos separe". Que merda de maneira de abençoar algo eterno! Se acaba com a morte, não é eterno.
A nossa pseudo-vida eterna depois da morte, isenta de amor, que morre connosco, deve ser uma eternidade muito infeliz.

Gostaria de saber quem inventou esta frase, só para lhe poder estacionar um camião, dentro do cu.

Tenho a certeza que foi um homem que inventou esta frase. Porquê? Porque esta frase é dita, por homens que fizeram votos de amar o próximo em geral, sem nunca poder amar ninguém em particular. Sem nunca poder, (pelo menos assumidamente) saber o que é, como é, amar e ser amado. E nós? Nós damos ouvidos as estes padrecos rebarbados, que não sabem o que dizem. Eles limitam-se a repetir o que foi escrito e dito vezes sem conta, por outros seres como eles. Seres, que aceitam tudo o que está escrito, tudo o que lhes é dito, sem questionar. Sem pensar. Para mim, quem não é capaz de desenvolver uma teoria própria, não é pessoa que eu tenha por perto, nem que respeite. Não desrespeito, mas ignoro.

Se o amor é realmente "até que a morte nos separe", o que se chama ao que vem depois? Depois da perda ainda se ama, mas como se chama esse sentimento, se o amor morreu com a pessoa amada?

Pergunto isto, porque amamos no momento que a pessoa amada fecha os olhos. Amamos quando a pessoa amada deixa lentamente de apertar a nossa mão. Amamos no momento em que percebemos que estamos sós. O Amor não morreu. O objecto materializado desse amor partiu, mas o amor fica.

Das cinzas ás cinzas, do pó ao pó e o corpo é levado à terra. A dor bate como nunca, pois a realidade atinge-nos. Não iremos voltar a ver, tocar, cheirar aquela pessoa.
Mas ainda amamos.
Dói mais, cada vez mais. De cada vez que o telefone ou a campainha tocam sentimos uma dor boa. A esperança.
Porque ainda amamos.
Lutamos por superar e não nos deixarmos seduzir pela morte. Tentamos ficar insensíveis ao estalo que nos é dado pela loucura. Porque ainda amamos.
As lágrimas já não correm, a dor parece diminuir sem diminuir. O tempo passa mas não cura, nós é que nos habituamos e parece doer menos.
Ainda amamos.
Lembramos porque amamos. Lembrar é manter a pessoa viva no nosso coração.
Enquanto lembramos, amamos.

Amor, não é atracção, paixão, fixação nem nenhuma outra palavra acabada em "ão", ou qualquer outra terminação. Pois, todos estes sentimentos podem ser definidos, todos temos exemplos destes sentimentos, normais no dia-a-dia. Agora amor? Quem tem na sua vida, ou na sua memória alguém a quem amou realmente, sabe o quanto a palavra amor é banalizada no dia-a-dia.

A morte não é o limite do amor, é transposição da maior das barreiras. É quando o amor passa a ser mais do que uma palavra ou sentimento vulgarizado, passando a ser algo que ultrapassa a compreensão humana. Algo que não pode ser traduzido por palavras por mais que se tente. Só sentindo. É quando a palavra amor é verdadeiramente honrada com a definição justa. É também a maior prova que amamos.

Agora, não me ataquem com merdas que não é preciso alguém morrer, para saber que amamos. Não. Não é preciso morrer, mas é preciso perder. Sem perder ninguém sabe a 100% se ama, ou se está simplesmente muito apaixonado. Pensa que sabe mas não sabe, não tem maneira de provar. Talvez dentro de 50 anos, tenha a certeza desse sentimento, mas agora não.

Os meu vizinhos, ele com 85, ela com 78. Saiam à rua de mão dada, beijavam-se em público. Ela caiu numa cadeira de rodas, deixaram de dar a mão, mas não deixaram de sair juntos e demonstrar o seu amor. Ela faleceu. Ele sobreviveu a perda dela, 2 meses e deixou-se ir também. Eles sim, podem dizer que amaram sem antes perderem. Mas só sabem que amaram, pois viveram uma vida inteira de amor e essa é a prova. Esse casal era uma inspiração a toda a gente que os via.
Agora, alguém com 20, 25, 30 anos a falar de amor à boca cheia, quando amanhã, esse amor pode já não existir, está a banalizar uma palavra que não merece ser usada em vão. 1 ano, 2 anos, 5 anos, poupem, isso não é tempo para definir qualquer sentimento como amor. É uma ofensa ao amor como sentimento.

Amar é até que a morte nos separe e para além dela. Só a memória dessa pessoa é suficiente para amar.

Quem amou nunca esqueceu, se esqueceu nunca amou. Por mais tempo que passe não esquecemos quem amámos.

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